Carteira de Investimentos: 8 passos práticos para você aprimorar a sua

Leonardo Alexandre de Geus
9 min readFeb 17, 2022

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Este texto é para pessoas que já investem, mas querem aprimorar a sua carteira de investimentos, focando em diversificação, rentabilidade e anti-fragilidade.

Mas primeiro de tudo, o que é anti-fragilidade? De acordo a teoria Antifrágil de Nassim Taleb, devemos estar preparados para eventos aleatórios que ocorrem no mercado financeiro, sempre pensando em formas de ganhar dinheiro com a volatilidade, ou seja, é necessário se preparar para eventos inesperados e aproveitar as oportunidades para se fortalecer.

Nossa carteira aplica muito bem este ensinamento e eu vou te explicar como em 8 passos:

  • 1) Entenda seu perfil de investidor
  • 2) Estude seus objetivos
  • 3) Mantenha sempre um caixa
  • 4) Invista em ativos de riqueza
  • 5) Tenha proteção contra eventualidades
  • 6) Acompanhe seus investimentos
  • 7) Faça rebalanceamento de ativos
  • 8) Aproveite as oportunidades

1) Entenda seu perfil de investidor

Antes de qualquer coisa, precisamos pensar no nosso perfil de investidor, cada um vive em uma situação e lida diferente com o risco e a incerteza. Se você é alguém que não aceita “perder” dinheiro com os investimentos e tem a concepção que só ativos de baixo risco, como renda fixa, vão deixar você tranquilo ao dormir de noite, sinto-lhe dizer, que o método escrito aqui talvez não seja o ideal para você. Como já descrevi neste artigo, a procura de maiores rentabilidades é necessário para nos aproximarmos de nosso objetivo de riqueza, e graças aos juros compostos, aqueles 2% que você deixa de ganhar por não se arriscar, podem significar bastante dinheiro la na frente. Se você é alguém que ainda tem receio de entrar no mercado de ações, vou te explicar como podemos ter riscos controlados e conseguirmos acelerar nossos ganhos. O importante é se sentir seguro nas aplicações e ter controle da situação.

2) Estude seus objetivos

Devemos ter em mente qual o nosso objetivo para acumular dinheiro. Alguns exemplos seriam:

  • aposentadoria (1 milhão em 30 anos),
  • carro (60 mil em 24 meses),
  • viagem (10 mil em 12 meses).

Para os objetivos de curto e médio prazo (até 5 anos), você deve guardar seu dinheiro em investimento seguros mesmo, como a Renda Fixa, as oscilações que você irá enfrentar ao investir em investimentos de risco podem acabar sendo bem perigosas, e você pode acabar perdendo muito dinheiro e não completando o objetivo no tempo proposto. Um bom título para este caso, seria algum tesouro atrelado a inflação (TESOURO IPCA).

Já se você pensa em enriquecer junto aos investimentos, e pensa em objetivos de longo prazo (+5 anos), como é o caso de uma aposentadoria, vamos adicionar a nossa carteira mais alguns elementos seguindo os tópicos deste artigo.

3) Mantenha sempre um caixa

O caixa nada mais é, do que o dinheiro aplicado em investimentos de baixíssimo risco. A existência de um caixa em uma carteira de investimentos é essencial, pois este nos protege contra eventuais desvalorizações na bolsa, nos permitindo também aproveitar oportunidades excelentes de comprar ativos desvalorizados. O ideal seria localizarmos ativos de alta liquidez e baixíssimo risco, o Tesouro Direto Selic é um que nos permite retirar o dinheiro em D+1, ou seja, se você pedir o resgate do dinheiro hoje, já estará com o mesmo no próximo dia útil. O risco do Tesouro Direto está atrelado apenas ao risco sistemático do país, ou seja, o risco do país quebrar e não conseguir pagar suas contas, que em minha visão, é bem próximo de zero.

Algumas fintechs, como o Nubank, PagBank e o Picpay oferecem também conta corrente remunerada que paga 100% do CDI, e estas também podem ser uma boa opção. No entanto, fica o alerta da facilidade de saque que uma conta corrente pode fornecer, as vezes isto pode acabar sendo perigoso.

Para o caixa, recomendo deixar no mínimo 6 meses de seus custos de vida guardados para possíveis emergências ou oportunidades. Se você atingir esta quantidade, seria bom deixar de 25 a 50% do valor total de de sua carteira como caixa, este número irá figurar quanto de apetite a risco você tem. Quanto mais risco você quer correr, menos caixa você precisa ter.

4) Invista em ativos de riqueza

Como você deve ter percebido, apenas comentamos sobre ativos que vão trazer segurança para nossa carteira e não riqueza. Neste âmbito, podemos adicionar as ações, os fundos de ações e os ETFs que utilizam o índice Ibovespa. Tais ativos estão correlacionados com a economia do país e devem ser pensados exclusivamente para quem deseja enriquecer com o tempo. No curto prazo, estes apresentam bastante volatilidade e podem acarretar em grandes perdas, já no longo prazo, apresentam médias históricas bem altas (algo em torno de 12,4% ao ano*) e por isso, os ativos de riqueza devem ser levadas em consideração na hora de investir.

Se você tem interesse em investir em ações, terá que estuda-las a fundo, pois cada uma delas representa uma empresa, que contém um funcionamento financeiro. Um investidor de ações deve ser alguém perito em entender tais indicadores e saber comparar empresas de um mesmo setor. Agora, se você não tem interesse no estudo de tais indicadores, recomendo comprar ETFs que seguem o índice ibovespa como o BOVA11. Este ativo na verdade é um fundo de investimento, que busca investir nas mesmas ações do índice, seguindo a mesma proporção. Assim, investindo em BOVA11 você estará bem diversificado nas maiores empresas do país.

O grande segredo para investir em ativos de riqueza que apresentam volatilidade, é fazer um preço médio, ou seja, comprar um pouco todo mês. Com o passar dos anos, as pequenas oscilações afetarão pouco seu dinheiro, e o preço médio garantirá que você estará preparado para o longo prazo.

Em relação a porcentagem investida em ativo de riqueza, não existe um número ideal. Existe o quanto seu perfil de investidor se sente confortável, podendo ficar entre 10% a 55% do montante total. O ideal é que quando mais jovem, você tenha uma maior quantidade destes ativos, pois jovens tem maior apetite a risco e não apresentam tantos problemas ao verem seu dinheiro desvalorizar.

5) Tenha proteção contra eventualidades

Ao investirmos em ativos de riqueza, como ações e fundos de ações, iremos ficar super expostos ao índice Ibovespa e as flutuações do mercado, podendo existir momentos de grandes baixas em nosso dinheiro investido. Maioria das vezes é possível recuperar rapidamente a valorização dos ativos para o mesmo patamar, no entanto, sempre podemos pensar em como acelerar este processo. Um dos melhores meios de conseguir isto, é investir em ativos que deem proteção a carteira. Dois exemplos muito bons, são o dólar e o ouro. Ambos tem um gráfico invertido ao Ibovespa, e valorizam enquanto o índice desvaloriza. O contrário também se aplica. Esta inversão nas rentabilidades, nos possibilita ter uma segurança contra possíveis crises, pois nestes momentos, tais ativos vão as alturas, sendo possível resgata-los, aplicando o dinheiro em outros ativos que estão desvalorizados.

No gráfico a seguir, podemos ver o momento de março de 2020, no qual ocorreu a chegada do novo Coronavírus ao Brasil. Repare o preço do dólar na linha sólida vermelha, e a rentabilidade em pontos do índice Ibovespa na linha de barras, observe a correlação dos ativos, sendo um praticamente contrário ao outro. Isto ocorre, pois quando o mercado brasileiro aumenta o risco devido a crises ou impasses políticos, as ações acabam desvalorizando, e o investidor externo acaba saindo do país, ocasionando a valorização do preço do dólar.

Como investidores inteligentes, devemos reconhecer tal correlação e saber aplicá-la em nossa carteira. Por isto, é recomendável ter uma parcela da carteira de investimentos dolarizada, o ideal seria manter no mínimo uma parte de quatro (1/4) da porcentagem que você tem de ações. Por exemplo, se você mantêm 50% em ações, o ideal seria ter no mínimo 12,5% em dólar contra eventuais desvalorizações. Pessoalmente, eu mantenho uma parte de três em relação a quantidade total de ações. Por exemplo, aos mesmos 50% de ações, mantenho quase 17% investidos em ativos dolarizados.

Como existe uma grande dificuldade na compra e venda de dólares em moeda, o ideal seria aplicarmos em fundos cambiais, estes podem ser localizados facilmente em qualquer corretora, e acompanham o preço do dólar frente ao real. Alguns exemplos seriam o Trend Dólar FI Cambial da XP ou o Votorantim Fic Fi Cambial Dólar.

6) Acompanhe seus investimentos

Com a escolha dos ativos realizada, precisamos achar alguma forma de acompanhar seus rendimentos. Existem algumas opções, sendo a planilha, criada com a ajuda de softwares (Excel, Google Sheets ou o Apple Numbers) a mais simples e prática. Para montar a sua, coloque o valor total dos ativos encontrados em sua corretora e a porcentagem que você definiu sobre cada categoria:

Exemplo de planilha de Investimentos

7) Faça rebalanceamento de ativos

O rebalanceamento da carteira é uma técnica que tem objetivo de ajustar o percentual dos ativos da carteira para os percentuais determinados anteriormente. No rebalanceamento, o investidor vende os ativos que performaram com uma rentabilidade acima do esperado e compra aqueles nos quais a rentabilidade ficou abaixo da expectativa. Assim, ele trará a carteira de volta à sua alocação original, diminuindo o risco de ficar super exposto aos ativos que já estão supervalorizados.

Para conseguirmos saber com exatidão quais ativos estão desbalanceados, podemos adaptar nossa tabela, adicionando alguns novos campos como no exemplo abaixo.

Ativos desbalanceados

Podemos observar, que pelo simples fato de subtrairmos o valor total que temos na corretora ao valor ideal, já será possível estabelecer quais operações iremos fazer com nosso dinheiro. Que no exemplo acima, seria a venda de 200 reais de ativos de riqueza, para compra de 200 reais em ativos de proteção.

Mas porque esta operação de rebalanceamento é necessária?

Para entender o rebalanceamento, vamos tentar imaginar dois cenários: um de crise e um de otimismo.

Na primeira situação, os ativos de sua carteira referente as ações irão desvalorizar, e consequentemente, a porcentagem que foi definida para este tipo de ativo ira diminuir. No outro lado, a porcentagem definida para ativos de proteção, como o dólar, irá aumentar. Por isto, devemos vender o que rentabilizou (os fundos cambiais), comprando o que diminuiu (as ações), fazendo o rebalanceamento e voltando as mesmas porcentagens definidas.

Agora na segunda situação, no cenário com o otimismo na bolsa de valores, os ativos relacionados a Ibovespa irão sofrer uma valorização e irão representar uma parte maior em nossa carteira. O contrário irá acontecer com os ativos de proteção, como o dólar, que irão desvalorizar. Por isso, devemos rebalancear vendendo as ações que estão supervalorizadas comprando mais fundo cambial ou qualquer outro ativo que teve sua porcentagem diminuída. Ao fazer isto, mesmo sem precisar saber com exatidão, estamos vendendo as ações a um bom preço, para comprar ativos de proteção com um valor mais baixo.

8) Aproveite boas oportunidades!

Apesar de termos configurado as porcentagens para ativos de proteção, de riqueza e de caixa, nada te impede de colocar alguns ativos na sua carteira para apimentar um pouco a rentabilidade, mas claro, com uma porcentagem pequena e ligada com seu perfil de risco. Como exemplo, poderíamos colocar criptoativos em uma porcentagem próxima a 5%, assim teríamos baixo risco associado a baixa porcentagem, mas ao mesmo tempo, aproveitaríamos estes ativos que têm trazido bastante riqueza para muitos investidores.

Para comprar tais criptoativos, poderíamos fazer de duas maneiras:

  • Comprando diretamento os ativos por meio de corretoras como Liqi, Binance, Foxbit ou BitcoinTrade. Sendo estes ativos alguma criptomoeda como Bitcoin ou Ethereum.
  • Comprando um ETF voltado diretamente a este mercado, o mais famoso é o HASH11, e pode ser encontrado em diversas corretoras brasileiras como na própria XP, Clear e Rico diretamente pelo homebroker.

Logo, sua tabela de rebalanceamento ficaria igual a imagem abaixo. Só não esqueça de constantemente atualizar ela e fazer o rebalanceamento quando necessário.

É isto, já posso aprimorar minha carteira?

Após a leitura deste artigo, você já estará com os conhecimentos necessários para iniciar uma carteira antifrágil de investimentos. Por fim, tenho mais um detalhe a pontuar: a operação de atualizar a tabela com os valores atuais da corretora, deve ser realizada regularmente, mas já a operação de rebalanceamento deve ser feita apenas em intervalos regulares. Assim, você evita o acumulo de operações desnecessárias, que ocasionam taxas de corretagem. Eu mesmo, costumo rebalancear minha carteira a cada dois meses, ou quando ocorre algum evento muito significativo no mercado.

Se depois de tudo isso, você ficou interessado em aprimorar mais sua carteira de investimentos antifrágil, eu posso te ajudar! Fornecendo mais conhecimento sobre o mercado financeiro, e a como montar e gerenciar a sua própria carteira de ações, sem pagar para que outras pessoas tomem conta do seu próprio dinheiro!! Se tiver interesse, pode entrar em contato comigo pelo e-mail leonardodegeus@gmail.com.

Obrigado.

Leonardo de Geus.

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